Na palestra “Fjord Trends 2022 Um guia de sobrevivência para 2022” Nick De La Mare (Fjord, Part Of Accenture Interactive) apresentou os destaques do relatório de tendências com 73 páginas.

Vale a pena baixar o report e ler com calma, principalmente se você trabalha na criação de produtos e soluções para o meio corporativo.

Nick faz uma observação sobre o metaverso após compartilhar que o filho dele vive dentro do Roblox e do Minecraft. A pesquisa de produtos para o metaverso precisa focar em gerações mais novas que tem mais naturalidade com esses espaços.

Ele alerta sobre a importância dos valores corporativos, atualmente as empresas privadas tem mais credibilidade e são vistas como mais éticas do que governo, ONGs ou mídia. Isso representa uma expectativa do consumidor que se for frustrada pode trazer problemas para as marcas.

Inovação precisa ser separada do que é novidade. Não precisamos mais criar algo novo para inovar. Experiência e geração de valor podem ser drivers de inovação.

“Inovação tecnológica não é inovação de valor, precisamos gerar o valor que a tecnologia pode entregar” (Nick De La Mare).

Em seguida foi a vez de “Projetando (Designing) o futuro de tudo” com Mardis Bagley e Phnam Bagley da Nonfiction Design. Eles apresentaram diversos projetos interessantes, vou deixar alguns links aqui e falar um pouco mais de 2 deles:

  • Brain Stimulator — Halo Sport 2 é um wearable neuroestimulante que aproveita a plasticidade do cérebro para melhorar o desempenho atlético.
  • The School of Lifelong Learning — A escola combina práticas sustentáveis, desenvolvimento de inteligência emocional, exposição ao empreendedorismo e uma dose saudável de absurdo.

Trio: Eletricidade como Medicina — Esse device utiliza eletricidade para tratar tremor essencial, um distúrbio neurológico muitas vezes confundido com Parkinson.

Duas coisas geniais no design dessa solução:

  1. A embalagem pode ser facilmente aberta por quem tem tremor essencial;
  2. O relógio pode ser colocado com uma única mão.

Outro projeto fantástico que eles trabalharam com a Qwake é uma máscara para bombeiros que usa inteligência artificial para enxergar melhor no meio da fumaça e do fogo:

Em testes de campo a máscara reduziu o tempo para completar uma missão de 4,5 para 1,6 minutos! Três minutos a menos respirando fumaça pode ser o tempo para se salvar uma vida.

Mais tarde assisti uma sessão de leitura do livro “Conversas com coisas” com as autoras Diana Deibel (Grand Studio) e Rebecca Evanhoe (Pratt Institute).

Ambas trabalham com design conversacional ou design de conversas, que não é apenas sobre fazer chatbots, mas sobre como qualquer objeto digital (IoT) se comunica conosco, de torradeiras a carros.

A ideia do livro é ajudar quem está trabalhando com design de conversas a evitarem os erros que elas viram tanto em seus trabalhos quanto em suas pesquisas. Em cada capítulo elas mencionaram alguém que foi entrevistado sobre aquele tópico, o livro é de fato uma coletânea de muitos trabalhos além da já enorme experiência das duas.

O erro mais comum ainda é fazer chatbots centrados em tecnologias ao invés de pessoas. Gasta-se muito tempo escrevendo código e pouco tempo entendendo como as pessoas conversam.

Ao definir a persona do chatbot os erros se acumulam, segundo as autoras idade e gênero não deveria ser o ponto de partida para uma personalidade.

Idade e gênero não são limitações do que uma pessoa pode fazer, apesar de que, mesmo um chatbot não tendo gênero, ele recebe uma atribuição do usuário, que decide que ele é homem ou mulher e passa a vê-lo dessa maneira.

A questão racial e cultural é muito mais relevante para começar a definir uma personalidade, raça e cultura, ditam hábitos, tom de voz, sotaque, vocabulário e muitas outras coisas que são relevantes em uma conversa.

Outro ponto significativo é a relação do chatbot com seu interlocutor. É um amigo, um parente, um professor, o chefe, um assistente? Definir a relação entre a persona do chatbot e o usuário ajuda a definir o tom da conversa e o vocabulário, além de especificar se a conversa é formal ou informal.

Muitas vezes o problema está no algoritmo de reconhecimento de voz, algumas pessoas não conseguem usar um dispositivo sem fazer codeswitching.

code-switching É quando um interlocutor alterna entre diferentes línguas, ou variedades linguísticas de um mesmo idioma.

Por exemplo, uma pessoa negra imitar uma pessoa branca ou uma mulher imitar um homem. Isso acontece porque o dispositivo não contempla modelos de vozes que variam por gênero e raça.

Existem chatbots com vozes mais neutras gravados por pessoas não binárias, mas isso não resolve todos os problemas porque raramente os programadores se perguntam se, ainda que inconsciente, um viés ou preconceito foi embutido no código. Se questionar ainda é a melhor maneira de evitar esses problemas em um chatbot.

Ainda vai demorar muito para máquinas substituírem completamente humanos em conversas, mesmo combinando um monte de tecnologias. E quem diz que falta pouco tempo ou está mal informado ou otimista em excesso.

Um comentário em “SXSW Interactive 2022 – 1º dia: Tendências, Futuro e Chatbots

  1. Ah como é bom e especial poder ler suas percepções e anotações, Ney. 🙏

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