O Keynote de abertura foi com Miguel Cardona, Secretário de Educação dos Estados Unidos (o equivalente a Ministro da Educação aqui), o título era “Reimaginando a Educação com os Estudantes no Centro”.

A palestra começou com muitos aplausos, dá para ver que o secretário é muito querido por aqui. É um profissional com a carreira construída na educação que resumiu seu longo currículo em 2 tópicos: sou pai e professor.

Para mim o ponto alto do painel foram os alunos no palco contando como foram suas experiências de estudo durante a pandemia. Você descobre que vidas caóticas dentro de casa não foram exclusividade do brasileiro. Isso aconteceu aqui também nos Estados Unidos, com várias pessoas dentro de casa estudando e trabalhando ao mesmo tempo, um caos.

Nesse painel e em outro mais tarde “Trazendo alegria de volta ao aprendizado” também se falou da necessidade de sociabilização e como os estudantes perderam contato com seus amigos durante a pandemia. Encontrar pelo Zoom somente no horário da aula não é o mesmo que encontrar na escola e passar o dia juntos.

Em seguida participei de um encontro rápido chamado “Veja, seja: inspire as crianças a encontrar seu futuro”.

A conversa foi intermediada por Andrea Delbanco da Time for Kids que traz conteúdo mostrando os bastidores de profissões legais como astronautas, por exemplo. A Time explica para as crianças que para existir um astronauta, centenas de outras pessoas têm que trabalhar em centenas de outros empregos. Isso ajuda a criança a se interessar por diferentes atividades.

São essas profissões tecnológicas de apoio, seja na NASA, na indústria ou nos escritórios, é que estão em falta hoje em dia. Se não empolgarmos as crianças a se tornarem desenvolvedores de softwares e cientistas de dados, teremos problemas ainda maiores no futuro.

Inclusive no painel com o secretário de educação, uma aluna comentou que aprendeu durante a pandemia que não queria ser desenvolvedora de software: “Ficar o dia todo no computador? Isso não é para mim”. Eu geralmente fico quieto durante as palestras, mas tive de compartilhar com o Felipe Menhem do meu lado: “tá vendo, ninguém quer ser desenvolvedor de software”.

Hoje eu vejo muitos adultos optando por desenvolver software quando descobrem que existem mais de 6 milhões de vagas em aberto até 2025 só no Brasil (de acordo com um estudo da Microsoft). Mas é o desejo de pagar as contas, e não o sonho de criança que move essas pessoas.

No painel “Trazendo alegria de volta ao aprendizado” participaram Rob LaSalvia (NASA), Joanna Mulholland (Berkeley), Jenny Nash (LEGO® Education) e Derek Newton (Forbes).

O assunto girou em torno da parceria Lego e Nasa para despertar interesse nos estudantes em profissões STEM (Science/Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática).

Me chamou atenção a conversa sobre crianças aprenderem através de uma abordagem multidisciplinar com o foco em resolver problemas. E sobre como essa abordagem pode ser divertida, montando soluções com LEGO usando motores e engrenagens que estão disponíveis nos kits mais avançados.

Quando olhamos o ensino tradicional, com as disciplinas todas em separado vemos como esse aspecto multidisciplinar é negligenciado. Alguns receberão estímulo mais tarde, na faculdade, no trabalho ou em casa, porém nem todos terão essa sorte. Muitos seguirão suas vidas sem saber como combinar disciplinas para resolver problemas.

De lá saí para o painel “De volta às aulas de graça: o novo padrão em benefícios profissionais” onde Jill Buban (EdAssist) contou como empresas estão fornecendo bolsas integrais de estudo. Incluindo matrícula e livros para funcionários e seus parentes.

Muitas pessoas estão largando seus empregos buscando novos desafios e oportunidades aqui nos Estados Unidos, é um fenômeno parecido com o que vemos no Brasil com os profissionais de tecnologia.

Pagar uma bolsa de estudos resolve diversos problemas para a empresa:

  • Atende o desejo dos funcionários de aprenderem novas habilidades;
  • Promove a todos na empresa acesso às mesmas oportunidades removendo os gaps de formação;
  • Ajuda a reter mão de obra qualificada.

E o maior trabalho nesse processo todo não é colocar as pessoas nos cursos, é apoiá-las para que elas continuem nas formações até o final.

É muito fácil começar algo, mas perseverar requer uma motivação extra, ou o apoio de uma comunidade ativa.

Mais tarde foi a vez da palestra “A revolução do aprendizado, que era sobre trabalhar como aprendiz. Neste painel estavam: Paul Champion (TranZed Apprenticeships), Yichen Feng (Lumos Capital Group), Nazrene Mannie (Global Apprenticeship Network) e Nicholas Morgan (Adaptive Construction Solutions).

Uma reflexão curiosa aqui é a de que passamos da era da “Macdonaldização” do ensino na linha de montagem, para a era da “AmazonPrimezação” com o ensino online, rápido e customizado.

O WBL (Work Based Learning, ou Aprendizado baseado em trabalho) é uma das formas mais antigas de se ensinar uma profissão, e bem eficiente. Se queremos ocupar milhões de vagas técnicas pendentes vamos precisar adotar esse modelo mais amplamente na sociedade.

É mais ou menos isso que fazemos na Digital House para formar programadores, sempre chamados de PBL (Aprendizagem baseada em projetos), mas funciona de forma muito parecida com o WBL.