último dia do SXSW Edu 2021 aconteceu em 11 de março, e se você ainda não conferiu, eu fiz um resumão do primeiro dia e segundo dia.

Para o encerramente, praticamente usei um Vira-Tempo para fazer essa cobertura, as duas próximas palestras aconteceram ao mesmo tempo, mas eu pude assistir uma ao vivo e a outra gravada. Alguma vantagem o evento online precisava ter não é mesmo? Além de novidades tecnológicas, hoje eu trouxe uma reflexão. Vamos lá!

Painel: Tecnologia e jogos para capacitar jovens transformadores criativos

Participantes convidados para o bate-papo:

  • Carla Uller – Executive Manager – Oi Futuro Institute
  • Igor Moreno – Teacher – NAVE / CESAR
  • Sara Crosman – Executive Director – Oi Futuro Institute
  • Vinnícius Rodrigo Ferreira Nazaré – Nave Student and CEO & Co-Founder of Startup Cordel
painel do último dia de sxsw edu 2021

O meu dia começou com uma palestra de brasileiros! O pessoal da NAVE e do Porto Digital compartilharam como jogos podem ser uma ferramenta poderosa para educação.

“A palavra escola originalmente significava um tempo ou local de prazer.”

(Johan Huizinga, Homo Ludens)”

Igor explica seu trabalho começando com o argumento de que perdemos essa ideia do prazer associado ao aprendizado ao longo do tempo.

Os jogos podem ser uma ferramenta dentro da sala tradicional para tornar um assunto mais interessante como história ou biologia, fazendo com que os alunos discutam e experimentem dinâmicas que produzem um aprendizado mais divertido.

Também é possível usar jogos como background para desenvolver skills técnicas relacionadas a mídia digital e programação. Isso desmistifica e estimula o aprendizado de matérias técnicas que poderiam ser assustadoras de outra maneira.

E por último Vinnícius mostrou como jogos podem representar situações da vida real, ele deu um exemplo de um jogo de Damas onde um dos jogadores tinha limitação na movimentação das peças enquanto outro poderia se mover livremente. O jogo era uma analogia para a limitação das mulheres na sociedade, tendo seus movimentos restringidos em diversos mercados por não serem vistas como pessoas proficientes em ciência e tecnologia.

Aliás, um tópico interessante da NAVE é a diversidade dos alunos, com muitas mulheres, negros e pessoas de baixa renda em geral.

Se você gostou dessas ideias pode baixar o e-book da Oi Futuro sobre práticas pedagógicas e ir mais a fundo em como isso pode ser usado em suas salas de aula.

Painel: Next Gen EdTech: Explorando a sala de aula do amanhã

Participantes convidados para o bate-papo:

  • Cigdem Ertem – Global Director For Education And Public Sector Sales – Intel
  • Jennie Magiera – Global Head Of Education Impact – Google
  • Max Greenfield – Actor & Dad
  • Shelley Wu – Director Of Enterprise And Education Solutions – ASUS System Business Group
painel com a Intel no último dia do sxsw edu 2021

Dispositivos eletrônicos na mão dos alunos é cada vez mais comum, e dependendo do curso é obrigatório. 

Jennie ficou em pânico quando teve de enfrentar uma sala onde cada aluno tinha um computador, “o que eu faço com isso”? Seis anos depois muitos professores ao redor do mundo podem aprender em 6 dias o que fazer na sala de aula do futuro lendo seu livro. Além do trabalho no Google, Jennie é autora do livro “Courageous Edventures: Navigating Obstacles to Discover Classroom Innovation” (que pode ser traduzido como “Eduventuras corajosas: navegando por obstáculos para descobrir a inovação na sala de aula”).

O caso de Jennie serve de exemplo para uma situação que já comentei várias vezes: a distância entre a disponibilidade da tecnologia e o uso dessa tecnologia na prática. Não basta pôr o computador na sala de aula, assim como não basta colocar um sistema novo em uma empresa, se você não treinar e preparar as pessoas para usar aquela tecnologia.

Cigdem da Intel, traz uma boa e assustadora perspectiva desses tempos de mudança: segundo o World Economic Forum estima-se que por volta de 2025, 97 milhões de novos empregos serão criados em tecnologia, ao mesmo tempo que 85 milhões de empregos tradicionais vão desaparecer.

Em seguida Shelley da Asus contou um pouco sobre inovações criadas para esse cenário, de aluno estudando no computador à distância: a conectividade do computador foi melhorada uma vez que ele será usado sempre online e foi usado um material antibactericida para evitar proliferação de bactérias num computador que será usado por muitas horas (e muitas vezes com comida por perto, bem diferente do padrão de um escritório). 

Os computadores também virão com redução de ruído, já que o microfone deixa de ser eventual e se torna diário. E escolas podem ter acesso a programas de manutenção remota de computadores, sem se preocupar com uma equipe interna de TI.

Você achou tudo isso muito complicado? A boa notícia é que Jenny Magiera, Global Head Of Education Impact no Google, também acha confuso, e está tudo bem: “ainda estamos todos aprendendo como viver num mundo de ensino remoto, não podemos ter expectativas irreais de que já sabemos como é a sala de aula do futuro”.

Cigdem acredita que o ensino híbrido veio para ficar e precisamos trazer as boas práticas do período pré-pandemia para o modelo atual misturando presencial e digital. Além disso, a escola do futuro deve começar a usar ferramentas de inteligência artificial para ajudar tanto os professores quanto a gestão da escola.

E o mais importante, essas empresas de tecnologia não acreditam que vão ditar como é a sala de aula do futuro, mas sim, construir juntos com a sociedade.

banner da biblioteca DH no post de sxsw edu 2021

Saúde Mental, Inclusão e Diversidade

Esse ano o SXSW EDU trouxe diversas palestras sobre Saúde Mental, Inclusão e Diversidade, eram temas já recorrentes no evento e por conta do COVID-19 se falou muito mais sobre o assunto. 

Algumas questões que surgiram em diversas atividades:

1. Crianças que perderam a interação social com os amigos

2. Crianças que não tinham acesso a tecnologia e ficaram para trás nos estudos

3. Pais que perderam o emprego e isso trouxe um desequilíbrio para o lar da criança

4. Pais que tiveram que trabalhar com os filhos em casa

5. Como foi desigual a relação entre empregos perdidos por gênero e raça, muito mais mulheres, negros e latinos ficaram desempregados

6. Como o serviço doméstico foi distribuído de forma desigual pelos casais no home office

7. Pessoas que sofreram burnout pela sobrecarga trabalho profissional + doméstico + cuidar das crianças

Todas essas questões estão relacionadas com educação. Acesso a melhor educação leva a melhores empregos, que leva a melhores condições financeiras, que providenciou uma casa melhor, que permitiu abrigar o home office e o homeschooling de forma menos caótica.

Sem acesso a tecnologia, o trabalho e estudo de milhões de pessoas ao redor do mundo ficou comprometido.

As empresas passaram pelo equivalente a 5 anos de transformação digital somente em 2020, e agora precisam de profissionais digitais que não estão disponíveis. Falhamos como sociedade em promover acesso igualitário ao ensino de skills digitais para todos os setores demográficos da população.

Muitos pensam nisso apenas como uma política social, porém esquecem que, além da questão humanitária (que deveria ser o suficiente), temos um problema econômico: nos países onde o gap entre vagas de emprego e profissionais qualificados é maior, a economia vai estagnar. Não dá pra crescer sem mão de obra.

A tecnologia está criando mais empregos do que destruindo, existem cada vez mais oportunidades aí fora, mas nem todos têm condições de aproveitar essas oportunidades. Nós como sociedade podemos mudar essa história.

Espero muito que a tragédia global que vivemos traga alguma reflexão, sei que nem todo mundo vai sair desse período com grandes aprendizados, mas aqueles que refletirem e aprenderem terão o poder de mudar o mundo, ainda que muitos não entendam o porquê.

Publicado originalmente no blog da Digital House.