O SXSW é meu principal momento de aprendizado do ano, nele aprendo coisas novas e descubro tendências de mercado. Começa com uma conferência dedicada à Educação, que neste ano vai de 7 a 10 de março. Depois continua com a interatividade, tecnologia e criatividade do SXSW Interactive, Music e Film de 11 a 20 de março.

Estou acompanhando diretamente de Austin o SXSW Edu e o SXSW Interactive. E vou compartilhar nas minhas redes pessoais, na Digital House e na Rocketseat os principais ensinamentos desse evento gigantesco.

Ao todo são mais de 2000 palestras, então o principal desafio começa na curadoria da programação. Abaixo segue um resumo das palestras que separei e consegui assistir no dia 7 de março, primeiro dia do SXSW Edu.

A Ciência do Aprendizado

O dia começou de forma bem empolgante com um keynote maravilhoso da Pooja K. Agarwal, Ph.D e autora do livro “Powerful teaching: unleash the science of learning” (em tradução livre: “Ensino poderoso: libere a ciência da aprendizagem”). Você não encontra o livro em português, mas existe material gratuito em português para baixar neste link: retrievalpractice.org/library

Nesta palestra ela falou sobre a importância da prática de lembrar o que aprendemos. É muito comum o professor se dedicar à transmissão do conhecimento, mas pouco se faz para ajudar o aluno a recuperar esse aprendizado.

Lembrar não requer mudanças no preparo da aula, tampouco na aplicação da mesma. Uma maneira simples de aplicar a recuperação do conhecimento é perguntar para os alunos o que eles aprenderam na aula passada. Dessa forma os alunos revisam o aprendizado anterior, recuperando informação de suas mentes, ao invés de o professor trazer novamente o assunto à tona. Ou seja, você muda como aplica os momentos de revisão.

O professor pode pedir para que os alunos escrevam em uma folha, no chat do Zoom, ou falem verbalmente, ou, o ideal, combinar todos esses métodos. Quanto mais estímulos para lembrança, melhor a fixação do conteúdo pelo aluno.

O esforço de lembrar faz parte do processo de gravar o conhecimento numa área da memória onde fica o conhecimento a ser reutilizado, tornando-o mais acessível à memória de longo prazo.

Porém, cuidado com a forma que as atividades de lembrança são aplicadas, lembrar é uma estratégia de aprendizado, não é uma forma de avaliação. Então não dê notas para esses momentos de lembrança, apenas feedback quando o aluno lembrar de maneira incorreta.

Alguns dos estudos relacionados à lembrança como método de aprendizado demonstram que aplicar essa prática melhora a profundidade do conhecimento. Fazendo com que as pessoas se lembrem mais naturalmente de um conteúdo, sem muito esforço. Além disso, a lembrança melhora as notas dos alunos e reduz a ansiedade!

Com certeza vou perguntar mais para os alunos do que revisar conteúdos a partir de hoje!

O grande desafio do reskilling na América

Reskilling é o processo de requalificação onde você ensina para a pessoa uma nova profissão. Ensinar uma nova profissão não é fácil, especialmente se a pessoa não está motivada.

Esse painel foi um debate entre Abby Marquand (New Profit), Angela Jackson (New Profit), Anousheh Ansari (XPRIZE) e Kristina Francis (Jobs for the Future).

O começo do painel girou em torno de um case onde New Profit e XPRIZE trabalharam juntos e adotaram uma abordagem simples, porém inovadora. Para envolver e motivar as pessoas que mais precisavam de reskilling: convidaram os trabalhadores para discutir com eles as opções disponíveis.

Queremos sempre colocar pessoas em caixinhas, mas raramente perguntamos para as pessoas quais caixinhas elas querem ocupar.

Eu falo muito sobre os trabalhos do futuro e esse painel me fez refletir muito sobre o trabalhador do futuro. Se para os novos empregos, existe escassez de mão de obra, então porque não perguntar para esse novo trabalhador qual a posição que ele quer ocupar? Certamente essa abordagem resolve o problema da motivação.

Um dos desafios dos programas de reskilling é que a maioria, principalmente as plataformas de cursos online, foram projetadas para pessoas que já têm habilidades digitais. Elas não ensinam o motorista do Uber ou o caixa do supermercado, elas ensinam quem já trabalha no escritório.

Quem está mais ameaçado pela automação futura (já acontecendo no presente), são aqueles com menos soluções à disposição.

Nenhum emprego está 100% seguro, mesmo quem trabalha com tecnologia tem que estudar continuamente (lifelong learning), para se manter competitivo.

O desafio do reskilling não é apenas para uma parcela dos trabalhadores. Existem aqueles que são mais prejudicados, mas a preocupação de estar se requalificando continuamente é de todo trabalhador do futuro.

Como saber se você precisa de requalificação? Se o seu trabalho não pode ser automatizado nos próximos 5 anos e você tem renda suficiente para manter sua família, você está bem. Ter uma renda é mais necessário do que ter um certificado.

Mas é preciso olhar continuamente para o cenário tecnológico do futuro, por isso é tão necessário tornar a tecnologia um assunto corriqueiro do dia-a-dia de todas as pessoas.

Espera-se que as pessoas nascendo agora vivam 100 anos, pode ter certeza de que elas vão passar por muitas mudanças de emprego durante a vida.

Realidade Aumentada na sala de aula

Links que aparecem ao ler QR codes, filtros do Instagram, boxes indicando rostos ao tirar fotos, painéis de carro que te ajudam a estacionar, Pokemon Go, todos são exemplos de realidade aumentada.

Nesta palestra apresentada por Robert Spierenburg (All Things Media LLC) ele mostrou que Realidade Aumentada (ou AR — Augmented Reality) já faz parte das nossas vidas. Mas porque ainda não faz parte da sala de aula?

Existem alguns exemplos bem interessantes de usos em sala de aula, como programas onde você pode fazer experiências químicas sem o risco de gerar fumaça ou pequenas explosões. Também é possível dissecar animais sem precisar sacrificar uma criatura por aluno.

As experiências em realidade aumentada não vão substituir as experiências físicas. Mas elas permitem testar, treinar e preparar os alunos para experimentar de verdade posteriormente.

Nas experiências feitas com realidade aumentada em sala de aula, 70% dos alunos afirmaram que isso melhorou seu aprendizado e 80% têm mais chances de assistir uma aula com AR. Em estudantes universitários a realidade aumentada diminuiu inclusive a evasão escolar.

Se por um lado o crescimento do ensino virtual com a pandemia torna o cenário mais propício para o uso de AR, ainda existem problemas por se tratar de uma tecnologia relativamente nova. Por exemplo, ainda não existe um guia de acessibilidade para realidade aumentada.

O que é preciso para começar a usar AR na sala de aula? Um celular. Ou seja, para alunos de algumas idades, não é preciso adquirir nenhum equipamento novo, diferente da realidade virtual onde seriam necessários adquirir óculos especiais.

Além disso, a realidade aumentada é uma experiência coletiva, todos podem olhar nas telas um dos outros, tornando o uso em sala de aula bem divertido.

Também são necessários softwares específicos, muitos deles gratuitos, ou seja, basta um planejamento para que todos instalem as soluções anteriormente.

Em termos de inovações para um futuro próximo, a realidade aumentada está bem próxima do nosso presente.

Construindo uma comunidade no mundo digital

Eu tenho estudado muito sobre comunidades principalmente depois que a Digital House se uniu a Rocketseat. É impressionante como pertencer a uma comunidade ajuda o aluno a aprender e seguir até o fim de uma jornada.

Nessa palestra Brian Alexander (Pathify) relembrou seu tempo de faculdade, onde a escolha das matérias era influenciada por quantas pessoas estavam ao redor de uma mesa se inscrevendo. A partir daí, falou como esse aspecto social se perdeu quando tudo migrou para sistemas digitais.

Os sistemas criaram mapas para os alunos navegarem, porém, deixaram de lado o engajamento social, quando perguntávamos para outros estudantes como navegar nesse mapa. Esse pedido constante de ajuda entre os estudantes criava o senso de comunidade.

Mas como construir essa comunidade? Brian dá algumas dicas:

  • Foco nas necessidades dos alunos;
  • Permita que eles criem conteúdo;
  • Comece cedo, desde o momento que os alunos são candidatos, e continue pela vida toda na instituição e até após ser graduado (alumni);
  • Deixe os estudantes decidirem os rumos da comunidade, criarem senso de pertencimento e propriedade;
  • Use conversas tanto síncronas como assíncronas através de plataformas como o Discord;
  • Use notificações úteis para trazê-los de volta à plataforma.

Uma comunidade precisa estar estabelecida e o aluno engajado antes dele ter problemas, quando ele precisar de ajuda já precisa ter conexão com seus pares para gritar por socorro.