O que é criatividade?
Uma das definições que mais gosto de criatividade é a seguinte:
“Criatividade é quando manipulamos símbolos ou objetos externos para produzir um evento incomum para nós ou para nosso meio.”
As pessoas que parecem ter nascido criativas receberam estímulos para manipular esses símbolos e objetos desde pequenos. Elas tiveram a oportunidade de desenvolver sua criatividade ainda na infância.
O mito dos lados do cérebro
Precisamos entender também que não existe um lado racional e outro criativo do cérebro. Nosso cérebro tem dois hemisférios que trabalham em conjunto. Existem áreas responsáveis por determinadas funções (como a fala, a visão, o tato), mas os lados direito e esquerdo não têm características distintas.
Se você pedir para alguém resolver um problema e monitorar a atividade cerebral dessa pessoa, verá diversas áreas do cérebro de ambos os lados serem acessadas durante a criação da solução.
Esse conceito vem de uma pesquisa antiga e desatualizada. Porém, é repetido à exaustão por diversos livros de autoajuda, o que faz com que muita gente tenha “certeza” de que é verdade.
Precisamos desconstruir esse mito para “destravar” seu cérebro quanto ao desenvolvimento da criatividade. A fisiologia do seu cérebro não determina sua criatividade.
O mito das pessoas de Humanas ou Exatas
Outro mito diz respeito às pessoas serem “de humanas” ou “de exatas”. Os indivíduos “de humanas”, receberam mais estímulos relacionados à comunicação e às artes e se tornaram mais eficientes em tarefas desse tipo. Enquanto que pessoas de exatas receberam mais estímulos relacionados a lógica e a matemática e acabaram melhor sucedidos em problemas dessa espécie.
O período escolar reforça esse conceito. O aluno que tem mais aptidão, por conta dos estímulos anteriores, para as áreas de exatas ou humanas acaba sendo rotulado dessa maneira por pais e professores, e acaba abraçando a ideia.
Ser elogiado ao fazer uma tarefa nos ajuda a aceitar esse rótulo. Se uma pessoa com aptidão para humanas, recebe elogios e melhores notas ao escrever uma redação, porque ela vai se sujeitar a fazer cálculos onde sua nota é sofrível e só recebe críticas?
Aprender algo novo, em uma área que você não domina, vai requerer muito mais esforço e motivação do que seguir dentro da sua zona de conforto.
Quando aprendi a dançar eu fiz um curso que prometia me ensinar os passos do Rockabilly em três meses. Porém, eu demorei seis meses para conseguir dançar no ritmo. Eu nunca fui a pessoa com a melhor coordenação nos pés. Eu precisei de mais tempo e esforço do que outros alunos. Só consegui aprender algo novo porque permiti que me tratassem como uma criança de cinco anos, onde o professor literalmente pegava na mão para ensinar.
Se você se der mais tempo, se dedicar, e permitir que te tratem como um jovem aprendiz, você pode aprender tudo.
Criando repertório
Se queremos ser criativos precisamos desenvolver repertório. O repertório é a matéria prima que será combinada para produzir criatividade.
Falando de criatividade para cultura digital precisamos de pelo menos três repertórios: sensorial, artístico (cultural) e tecnológico (digital).
Repertório sensorial
Esse é o primeiro repertório que todos desenvolvemos ainda na infância, para desenvolvê-lo você precisa estimular os cinco sentidos: visão, audição, tato, paladar e olfato.
Vale destacar que criar repertório e desenvolver a criatividade são exercícios diferentes dos sentidos.
Por exemplo, para desenvolver sua visão é necessário prestar atenção em todos os detalhes à sua volta, em ambientes claros ou iluminados é possível enxergar melhor.
Já para o processo criativo é recomendado uma luz baixa para eliminar distrações visuais e focar nossa mente em nosso repertório visual interno.
O mesmo acontece com os demais sentidos. Você vai ouvir música para estimular a audição, ou até tocar um instrumento musical se você quiser ir além. Porém, para trabalhar recomenda-se usar Brown Noise, um tipo de som parecido com o White Noise (usado para relaxar ou dormir), mas em uma frequência diferente. Você encontra playlists de Brown Noise gratuitamente em plataformas de streaming de música como o Spotify.
Para desenvolver o olfato e paladar explore diferentes alimentos e bebidas, aprenda a reconhecer os cheiros e sabores doces, salgados, azedos e amargos.
E finalmente o tato que, apesar de muitos associarem as mãos, é um sentido da pele, que envolve todo o corpo. Sentir com o corpo inteiro, reconhecendo texturas, temperaturas e pressão entre outras sensações é fundamental para termos uma consciência plena do espaço ao nosso redor e até dos nossos sentimentos.
Repertório artístico e cultural
Com os sentidos afiados é hora de aprender a apreciar a arte em sua plenitude.
Existem 11 tipos de artes reconhecidas:
- • Música (som)
- • Artes cênicas (movimento)
- • Pintura (cor)
- • Escultura (volume)
- • Arquitetura (espaço)
- • Literatura (palavra)
- • Cinema (audiovisual)
- • Fotografia (imagem)
- • História em quadrinhos (cor, palavra, imagem)
- • Video Games (todas as anteriores e gamificação)
- • Arte Digital (imagens produzidas por computador 2D, 3D e programação)
Conhecer as artes além dos seus gostos pessoais é fundamental para desenvolver seu repertório. Isso envolve consumir tipos e estilos dessas artes que você não teria contato naturalmente.
Entender os públicos dessas artes e seus estilos, os comportamentos associados a cada um e seus fenômenos culturais, é fundamental para ampliar seu repertório artístico e cultural.
Para dominar seu repertório artístico, recomendo experimentar todas essas artes: cante, toque, dance, interprete, pinte, esculpa, organize, filme, edite, fotografe, desenhe, apresente, programe.
O objetivo não é necessariamente tornar-se um artista, mas explorar de forma mais íntima e profunda os seus sentimentos e sensações, sua relação com o mundo e com a sociedade. Deixar sua mente vagar em diferentes direções e preparar o terreno para a criatividade.
Repertório tecnológico e digital
Uma das bases do repertório tecnológico e digital é o Pensamento Computacional, ser capaz de criar tecnologia e não apenas consumi-la. O pensamento computacional possui quatro pilares principais, atualmente conhecidos como SMAC (social, mobile, analytics e cloud).
Outra forma bem comum de desenvolver repertório tecnológico de uma forma criativa é consumir ficção científica. Além de filmes você vai encontrar literatura, jogos, quadrinhos e outros objetos artísticos desse gênero.
Na ficção científica muitas vezes fantasia e realidade se mesclam produzindo ideias de avanços que, apesar de ainda não existirem, podem ser criados usando-se tecnologias existentes. Não é incomum que invenções saiam da ficção científica para a realidade de tempos em tempos.
Existem processos criativos com foco em preparar empresas para o futuro que usam uma combinação de Design Thinking com ficção científica, criando o “Design Fiction” ou “Futurecast Sprint”.
Entender que você não tem limitações, sair da zona de conforto, criar repertório sensorial, artístico e digital. Pronto! Você tem todo o preparo necessário para se tornar uma pessoa criativa tecnológica na era da transformação digital.
Publicado originalmente no blog da Digital House