O SXSW Edu ainda está acontecendo, e depois do meu primeiro resumo sobre a abertura do festival, compartilho com vocês minhas reflexões e opinião sobre o segundo dia.

Neste 10 de março, a agenda reuniu Edtechs e grupos de pesquisa para comentar sobre o futuro da educação e as percepções do mercado profissional. Vamos nessa? Tenho uma lista de informações instigantes para compartilhar.

Painel: Como projetar uma EdTech sem preconceitos

Participantes convidados para o bate-papo:

  • Patricia Scanlon – Founder & CEO – SoapBox Labs
  • Nicol Turner-Lee – Director, The Center for Technology Innovation (CTI) – The Brookings Institution
  • Vic Vuchic – Chief Innovation Officer & Executive Director of the Learner Variability Project – Digital Promise

O painel começou apresentando algumas oportunidades de inteligência artificial na educação. Um dos exemplos é o reconhecimento de fala para criar sistemas que ajudam a criança a ler, corrigir pronúncias, avaliar pontos fortes e fracos e recomendar atividades. 

A ideia não seria substituir o professor, mas permitir uma individualização sem necessidade do professor sentar do lado de cada criança, o professor pode intervir onde for mais necessário e a IA não consegue cobrir, porque um sistema por enquanto não consegue cobrir todos os problemas e soluções possíveis.

Além disso, um sistema pode ficar por horas acompanhando a criança em seus estudos e ajudando-a a direcionar seu tempo e energia onde ela mais precisa. Seria um substituto do livro de atividades que depende da auto-avaliação das crianças ou pais para definir a rotina de estudos.

painel sobre educação no sxsw 2021 edu

Outra vantagem desses sistemas seriam oferecer diferentes formatos e jornadas dependendo da facilidade de aprendizado de cada criança, ela poderia escolher entre games, histórias, imersões 3D ou até entre formatos clássicos como texto, voz, imagens, vídeos. Conforme a criança tem melhor desempenho em uma técnica o sistema vai aprendendo como ensiná-la melhor.

Os maiores problemas em todas essas soluções é que ainda temos 2 grandes dificuldades ao distribuir a tecnologia:

  1. O acesso em si – nem todo mundo tem conexão à internet e equipamentos adequados.
  2. fluência em tecnologia – não adianta distribuir ferramentas sem que as crianças e/ou pais entendam como usar aquela tecnologia de forma eficiente.

Porém, se resolvermos esses problemas, alguns estudos com cerca de 100 crianças em famílias de baixa renda tiveram cerca de 93% de melhoria na fluência do inglês. 

Podemos melhorar muito o aprendizado se pensarmos que a infraestrutura necessária para educação vai além das salas de aula.

painel sobre educação no sxsw 2021

Outro problema na forma como esses sistemas funcionam hoje é porque eles são treinados e testados em pessoas de uma determinada idade, gênero, região geográfica, etc. E quando são colocados em produção eles não reconhecem corretamente a voz de diferentes pessoas que falam de forma diferente dos dados usados para treinar essas inteligências artificiais.

painel sobre educação no segundo dia do sxsw 2021 edu

No atual formato um sistema de ensino que não entende a criança poderia dizer que ela está errada quando está certa simplesmente por não compreendê-la.

Por outro lado, se corrigirmos esse modelos a tecnologia pode funcionar melhor do que as pessoas, porque um sistema não enxerga o gênero, cor da pele ou classe social do aluno. 

Uma possível solução seria uma joint venture entre empresas para compartilhar datasets buscando ter mais diversidade e consequentemente mais precisão. Não é preciso compartilhar algoritmos, cada uma manteria sua proposta de valor.

O problema é que muitas vezes o dataset é visto como uma vantagem competitiva, quando na verdade, no atual momento, os dados organizados isoladamente têm sido a real razão de não termos sistemas eficientes em diversas áreas.

Painel: Múltiplos caminhos futuros – expandindo a percepção dos alunos

Participantes convidados para o bate-papo:

  • David Shapiro – CEO – MENTOR: The National Mentoring Partnership
  • Shaun McAlmont – President Of Career Learning Solutions – Stride, Inc. (Formerly K12)
  • Julia Freeland Fisher – Director of Education – Clayton Christensen Institute
  • Sabari Raja – Co-Founder & CEO – Nepris Inc
  • Jean Eddy – Pres & CEO – American Student Assistance
momento de apresentação no painel do sxsw edu 2021

O painel começa com cada participante falando das suas origens e uma primeira fala se destaca: Sabari, que nasceu numa área rural, só seguiu o caminho do empreendedorismo por conta do seu tio que era bem sucedido no ramo de tecnologia e serviu de inspiração, e isso leva a uma reflexão onde relacionamentos muitas vezes importam mais do que diplomas.

David faz um parênteses na discussão mostrando que, aquilo que medimos depende da régua que usamos, se escolhemos medir por diplomas o mercado cria rankings de universidades, se medidos por relacionamentos criamos rankings de conexões e comenta sobre a forma como o estudo é avaliado: através de testes.

O problema com os testes é que nem sempre eles representam o desafio do mundo real, mas uma vez que professor e aluno são medidos por essa régua eles se tornam muito bons em preparar pessoas para os testes e fazer os testes.

Então, se queremos que a escola promova mais relacionamentos, se entendemos que relacionamentos são importantes, precisamos começar a medir a escola também pelas conexões que os alunos criam. Não é sobre acabar com os testes, mas repensar a importância de outros elementos na formação do aluno para a vida.

Nepris é uma plataforma que conecta alunos com profissionais do mercado, basicamente Sabari está dando a oportunidade de todo mundo encontrar alguém para inspirar sobre a carreira, assim como seu tio fez com ela no passado.

Shaun explica que usa a plataforma da Nepris na Stride e além das conexões com o mercado vê a importância do aprendizado por projetos, que não é apenas um modelo de avaliação melhor do que testes, mas também dá ao aluno uma experiência mais próxima ao mercado, e permite que ele faça melhores escolhas sobre sua futura profissão. E não é apenas para alunos no colégio, quando mais cedo eles têm experiências profissionais, mais opções se desenham na cabeça do aluno para o seu futuro.

A ideia de plataformas como a Nepris, não é substituir o mentorado tradicional, muitas vezes desempenhado pelo professor. Ter um mentor é uma conexão mais profunda e difícil de escalar, dar acessos em escala num primeiro momento apresenta mais opções para o aluno que depois pode se aprofundar.

Ou seja, no final não é sobre substituir os modelos de avaliação e desenvolvimento de carreira, é sobre ter mais opções para cobrir as oportunidades que estão cada vez mais complexas e diversificadas. Somente conhecendo o que acontece no mundo podemos influenciar as novas gerações a se prepararem para esse mundo e mitigar futuros gaps entre formação e mercado de trabalho.

6 coisas que você não sabia sobre idiomas

Essa foi uma palestra bem divertida, eram 10 coisas, mas eu não “traduzi tudo”. Vou destacar alguns aprendizados interessantes e deixar o link do YouTube para quem quiser assistir na íntegra.

E se você tiver dificuldades de aceitar algum desses tópicos vale lembrar que a palestrante, Emily Sabo, é Phd em linguística 😉

  • Existem aproximadamente 7 mil idiomas no mundo, mas infelizmente 1 desaparece a cada 2 semanas porque não são transmitidos para novas gerações ou a cultura a qual pertence aquele idioma é assimilado por outra cultura.
  • linguagem de sinais não representa necessariamente uma mímica da palavra, algumas palavras são completamente diferentes e existe uma linguagem de sinais diferente para cada idioma. Já prestou atenção que LIBRAS significa Linguagem Brasileira de Sinais?
  • Todo idioma permite expressar qualquer tipo de ideia, o que acontece é que em alguns idiomas existe uma palavra única, mas em outro idioma, usando mais palavras, é possível expressar a mesma ideia.
  • Através da voz é possível deduzir, com algum grau de precisão, a idade, gênero, raça, orientação sexual, altura e nacionalidade. Confesso que fiquei muito surpreso aqui, principalmente sobre a questão da altura, ela não entrou em detalhes, mas comentou que é legal saber que parte da nossa identidade vive na nossa voz.
sxsw 2021 edu acontecendo virtualmente
  • O idioma que você fala pode moldar a forma como você pensa. Existem idiomas por exemplo, como o quéchua (falado na época do império inca e até hoje por pessoas no Peru, Bolívia e Equador) que na “conjugação da palavra” é inserida a informação se você tem certeza de algo ou apenas ouviu falar, ou seja, quem fala quéchua tem de pensar na origem da informação que vai passar adiante. Fiquei pensando que deveria ter isso em mais idiomas, ia resolver o problema das fake news.
  • O rosto da pessoa muda como você percebe a voz. Isso pode atrapalhar a leitura labial ou inserir um sotaque onde não existe. Fizeram um experimento mostrando o mesmo áudio de uma aula para 2 grupos, para um dos grupos falaram que o professor era japonês, esse segundo grupo reclamou do sotaque, mas o áudio não era de um japonês e não tinha sotaque!

Top 10 Things You Didn’t Know About Language | Mango Languages 

Painel: Upskilling para o futuro

Participantes convidados para o bate-papo: 

  • Ryan Stowers – Executive Director – Charles Koch Foundation
  • Josh Jarrett – Executive Chair – SkillUp Coalition
  • Nitzan Pelman – Founder/Co-Founder – Climb Hire

O adolescente de 18 anos de hoje provavelmente vai viver 100 anos, e muitos acreditam que a primeira pessoa a viver 150 anos já deve ter nascido.

Com essa perspectiva em mente, Josh aponta que 4 anos de estudo não vão resolver a vida profissional desse jovem até o final de sua vida produtiva..

É preciso pensar em outros formatos e conteúdos, pois a pessoa vai voltar várias vezes pra escola, o tão falando lifelong learning, e ela precisa aprender skills técnicas para aprimorar sua vida em alguns sentidos nem sempre diretamente relacionados a uma nova profissão por exemplo: finanças e projetos.

painel sobre educação no sxsw 2021

Além disso a pessoa que vai passar por uma experiência de upskilling precisa de outros suportes, muitas vezes ele não teve acesso a uma formação tradicional aos 30, e dificilmente ele vai conseguir essa formação por não se sentir parte da comunidade de estudantes universitários majoritariamente na casa dos 18~20 anos.

E quando falamos das profissões mais novas, que geralmente pedem um reskilling (transição de carreira) existem ainda outras questões que fazem os alunos se sentirem deslocados pois faltam mulheres, negros e pessoas de baixa renda de uma forma geral na sala de aula.

Aqui um parênteses, já passamos por situações similares na Digital House, principalmente nos programas de bolsas. O professor e os demais alunos não sabem quem é o bolsista, mas o bolsista se sente deslocado, é preciso um acompanhamento regular para entender como esse aluno está, às vezes uma simples conversa já ajuda, em outros casos pode ser necessário uma orientação psicológica.

Voltando ao painel, a necessidade de reskilling e upskilling cresceu absurdamente nesse último ano em função do crescimento do nível de automação no mercado. Os 5 anos de transformação digital que as empresas experimentaram em um único ano significam uma mudança agressiva na força de trabalho dessas empresas.

E Nitzan reforça que não basta ensinar as skills, é preciso reforçar a autoconfiança dessas pessoas através de uma mentoria de carreira e criar redes de contatos que permitam que elas tenham acesso aos empregos que dependem de indicação e não estão anunciados. 

Está gostando dos resumos? Então compartilhe com aqueles que também gostam de se manter antenados sobre o mundo da tecnologia. Amanhã volto com mais uma lista de insights do SXSW Edu 2021.

Publicado originalmente no blog da Digital House.