O SXSW, que é um dos maiores festivais de inovação e criatividade do mundo, acontece na cidade de Austin, capital do Texas nos Estados Unidos, e possui 4 grandes temas: Música, Cinema, Interatividade e Educação. 

SXSW Edu começou no dia 9/março, antes dos demais conteúdos (que neste ano se iniciam em 16/março). Por aqui quem fala é o Edney Souza, Diretor Acadêmico da DH, e nos próximos dias vou fazer um resumo do que estou acompanhando e compartilhando com vocês algumas das minhas descobertas.

Frequento o evento desde 2011, essa é a minha 6ª edição do SXSW, sendo a 1ª online. Se não fosse a pandemia, eu estaria em Austin nesse momento, felizmente o evento está acontecendo de forma online e posso acompanhar mesmo estando longe! Esta edição tem diversos painéis e palestras sobre como reagir durante e depois da pandemia, além das novidades tecnológicas que continuaram surgindo no mundo.

A cada dia vou publicar um resumo das palestras mais interessantes, essas foram as que me chamaram mais atenção no 1º dia, amanhã volto com mais conteúdo pra vocês.

Keynote de abertura: Oprah Winfrey & Dr. Bruce Perry in Conversation 

Dr. Bruce Perry é psiquiatra, membro sênior da Academia de Trauma da Criança em Houston, Texas, e professor na Feinberg School of Medicine em Chicago, Illinois. Oprah, apesar de dispensar apresentações, gostaria de enfatizar que também é psicóloga, além de apresentadora, jornalista, atriz, empresária, repórter, produtora, editora e escritora.

Oprah e Bruce são co-autores do livro: What Happened To You, onde explicam como o nosso cérebro pode ser afetado biologicamente e não apenas psicologicamente durante eventos traumáticos.

oprah winfrey no evento sxsw 2021

No começo da abertura, eles começam deixando claro que traumas não são apenas grandes eventos como incêndios, enchentes, furacões ou violência física, atos repetidos de discriminação no dia-a-dia podem gerar traumas.

Seja por um grande impacto ou repetidos impactos que acabam se somando, nosso sistema mental responsável por nos defender do estresse é ativado, viver sob constante estresse acaba por levar a doenças como hipertensão, diabetes e asma.

Além disso, os gatilhos que ativam nosso sistema de resposta ao estresse acabam por fechar nosso córtex cerebral, tornando o aprendizado quase impossível

Para ensinar alguém que esteja nessa situação de estresse é necessário em primeiro lugar “regular” a pessoa de volta as respostas normais, falando da pandemia do COVID-19 será necessário um tempo de interação social com jogos e brincadeiras para tirar os alunos do estado de estresse e prepará-los novamente para o aprendizado com o córtex cerebral “reaberto”.

Daí vem o título do livro, que numa tradução livre seria “O que aconteceu com você?”, nem sempre uma resposta agressiva ou exagerada de uma pessoa tem relação com o que está acontecendo naquele momento, mas sim com um trauma anterior, que pode ser uma série de micro agressões acontecendo repetidas vezes.

Fiquei pensando se no final das contas várias “dicas” que conhecemos como “auto-ajuda” não tem relação biológica com partes do nosso cérebro que ainda não compreendemos.

O conteúdo acabou me surpreendendo e me fez pensar muito em nossos alunos que apesar de estarem estudando remotamente conosco estão enfrentando todo o tipo de problemas em sua vida presencial. 

Fiquei pensando também na minha filha, e quão importante será a volta do convívio social para regular seu aprendizado antes de efetivamente tentar recuperar o tempo perdido.

Ficou a vontade de comprar o livro e me aprofundar no assunto, porém o livro só estará disponível em 27 de abril, mas serviu para começar o evento mais animado.

Painel: Aceitando que um diploma não é uma panaceia

Participantes convidados para o bate-papo:

  • Anant Agarwal – Founder and CEO – edX
  • Annabel Cellini – Chief Strategy Officer – American Student Assistance
  • Ryan Craig – Managing Director – Student Achievement Partners
  • Michael Horn – Columnist – Forbes

Panaceia é um termo utilizado para descrever um remédio que possa curar todos os males. Assim como um único medicamento não pode tratar todas as doenças, um diploma universitário não soluciona todas as necessidades profissionais do mercado atual.

painel sobre educação do evento sxsw 2021

Muitas das discussões aqui apresentadas começam com o argumento de que o sistema educacional tradicional é inacessível em função do custo e o mercado começou a criar alternativas à faculdade que acabaram sendo vistas de forma pejorativa na sociedade.

Durante parte do painel eles desconstruíram esse argumento explicando que a universidade continua preparando o aluno em habilidades cognitivas como pensamento crítico e resolução de problemas. O problema é que o mercado de trabalho mudou, antes o empregador contratava um estudante universitário porque “essa pessoa tem a base que precisamos para aprender esse trabalho”, agora o mercado profissional precisa de alguém que seja produtivo desde o 1º dia

Ou seja, as alternativas à universidade não são piores do que a universidade, mas sim um complemento que prepara o aluno para as necessidades profissionais do mundo moderno.

Uma alternativa apresentada foram os micro-bacharelados, onde o estudante pode estudar algumas matérias em separado, começar a trabalhar e ir estudando mais matérias conforme sua necessidade profissional. Em um dado momento no futuro ele pode somar os créditos de todos esses micro-bacharelados e obter um diploma de bacharel.

Outra questão discutida é a visão de que, para quem não fizer uma faculdade só vai restar trabalhos manuais, o que não é verdade. Existem uma série de trabalhos em tecnologia que precisam de habilidades e conhecimentos que não são ensinados na universidade, ou seja, existem ótimos empregos por aí que o diploma universitário não vai lhe dar acesso.

Outra perspectiva apresentada é a do aluno, que ao terminar o colégio se vê obrigado a decidir que curso e em que universidade vai estudar, quando na verdade existem mais opções como os bootcamps, micro-bacharelados e outros treinamentos técnicos que podem levar a outras opções de carreira e diferentes investimentos do seu tempo e dinheiro.

Essa decisão vai além de conhecer as oportunidades de mercado, ela também passa por uma reflexão pessoal do aluno que não é incentivada / desenvolvida. Questões como: “o que eu gosto de fazer?”, “o que me deixa motivado”, “quais são minhas forças e fraquezas”, “quais são as coisas que eu não quero fazer com certeza”, nunca são feitas ou são feitas, mas sem dar o aluno a experiência necessária para respondê-las adequadamente. Muitas vezes o aluno decide baseado em alguém que ele conhece na sua vida pessoal, sem a escola fazer parte dessa jornada.

Outra reflexão feita no final é que os empregadores precisam mudar os processos seletivos na exigência desnecessária do diploma universitário para funções que exigem conhecimentos que não são ensinados na universidade. Ou seja, muitas empresas têm dificuldade em contratar profissionais de tecnologia porque estão procurando no lugar errado.

Inclusive as empresas podem ser mais uma outra alternativa nesse aconselhamento de carreira, muitas possuem em seus quadros muitos profissionais que não executam trabalhos técnicos e poderiam ser direcionados pela empresa para se desenvolverem em conhecimentos que ela precisa para crescer e permitir que esses funcionários façam uma movimentação lateral dentro da empresa.

Em resumo, o que funcionou nos últimos 50 anos em termos de carreira e formação já não está funcionando bem hoje e deve mudar ainda mais nos próximos anos, principalmente com a transformação digital acelerada pela pandemia.

Painel: Além do Blended -: Cruzando fronteiras para transformar

Participantes convidados para o bate-papo:

  • Frank Uffen – Director of PartnershipsThe Student Hotel
  • Marco Van Hout – Creative Director/ Co-founderDigital Society School
  • Sabine de Zeeuw – Growth For Good Project Lead | Talent Program Development ManagerGrowth Tribe

Uma reflexão bem interessante desse painel é como precisamos criar um espaço de aprendizado global para avançarmos como humanidade. Historicamente, conforme o ser humano migrava pelo globo ele levava conhecimento com ele, quando colocamos fronteiras muito desse conhecimento ficou preso dentro dos países.

Um exemplo interessante de colaboração internacional foram as pesquisas sobre a COVID-19, apesar de muito conhecimento sobre as vacinas serem segredo industrial, muitos dos estudos foram compartilhados e o aprendizado permitiu a criação de diversas vacinas em tempo recorde.

Além disso, os painelistas discutiram sobre como seria o mundo do aprendizado ideal no pós-pandemia.

painel sobre tecnologia no sxsw 2021

O ensino online para adultos mostrou que uma série de ferramentas podem tornar a experiência do aprendizado no ambiente digital muito interessante (assim como fazemos na Digital House) mas ainda falta a troca social com as pessoas. 

No aprendizado online, conhecer pessoas novas depende de um esforço extra, você acaba tendo contato apenas com o professor ou com um número reduzido de pessoas nas dinâmicas de grupo.

No mundo ideal, na visão dos painelistas, o futuro será do ensino híbrido, onde pegamos as melhores práticas online descobertas antes e durante a pandemia e misturamos com tudo que sentimos falta do presencial e não foi incorporado adequadamente. O resultado deve ser experiências mais intensas e trocas mais prazerosas aliado ao aprendizado.

Painel: Contratação baseada em skills -: mudança de paradigma para educadores

Participantes convidados para o bate-papo:

  • Carlos Moreno – Co-Executive Director – Big Picture Learning
  • Grace Suh – Vice President, Education, Corporate Social Responsibility – IBM Corporation
  • Jake Hirsch-Allen – North America Workforce Development And Higher Ed System Lead – LinkedIn
  • Pat Leonard – Vice President, Strategic Partner And Business Development – Credly
  • Julie Lammers – VP Consumer Advocacy & Govt Rel – American Student Assistance
  • Michael Rubin – Principal – Uxbridge High School

O painel começa detalhando como as contratações evoluíram nas empresas, um anúncio de vaga de trabalho costumava ter apenas skills técnicas (ou hard skills) necessárias para desempenhar a função, agora os empregadores têm detalhado as skills humanas (ou soft skills) que eles procuram.

Esse é um movimento que pode ser notado principalmente em grandes empresas como Microsoft, IBM e Amazon e em função do valor que traz para as empresas provavelmente deve se tornar o novo padrão de contratação não somente para as grandes empresas, mas até para as pequenas e médias.

painel sobre contratação no evento sxsw education 2021

Outra reflexão importante aqui é como promover a educação adequada (que inclui hard e soft skills) para pessoas de diferentes culturas. O sistema atual favorece as pessoas de classes sociais mais privilegiadas, e quando todos essas pessoas de mesma origem chegam na empresa, falta uma diversidade de pensamentos e ideias que atrapalha a empresa em ser criativa e inovadora de uma forma que se conecte com toda sociedade. A empresa precisa ter um ambiente diverso para favorecer a diversidade de ideias, as empresas têm começado a reconhecer isso, porém o sistema educacional ainda não entrega esses estudantes diversos.

Fornecer estudantes diversos, com as skills humanas necessárias para as empresas da atualidade vai exigir um redesenho da admissão no sistema educacional e da forma de ensinar, porque você não ensina colaboração colocando uma disciplina “Colaboração”, você precisa criar atividades colaborativas e orientar os alunos nessas atividades sobre sua postura, ou seja, é preciso redesenhar a forma como todas as disciplinas são lecionadas para incluir atividades que desenvolvam as soft skills.

Publicado originalmente no blog da Digital House