Quando eu comecei um site em 1997 a idéia era apenas fazer testes. Eu era um programador, trabalhava com softwares corporativos (os famosos ERPs) e queria experimentar outras alternativas dentro da minha área de trabalho.

Nas horas vagas comecei brincando com HTML, mais tarde comecei a programar em PHP e nesse meio tempo eu comecei a escrever sobre tecnologia enquanto ainda trabalhava com sistemas corporativos.

O estranho é que escrever textos começou a me dar mais prazer e, alguns anos mais tarde, mais retorno financeiro do que escrever códigos. Fui considerado o primeiro brasileiro a viver de blog por diversas publicações, se eu já achava esse título idiota na época, hoje me parece ainda mais nonsense.

A parte idiota da coisa é que vivíamos, e infelizmente a grande maioria ainda vive, celebrando as ferramentas ao invés das habilidades. Exaltamos como blogueiras de moda ou videologgers conseguem transformar seus canais em veículos de sucesso quando na verdade a grande habilidade dessas pessoas é escrever, ensinar, entreter, apresentar. São artistas, apresentadores, educadores e escritores que calharam de usar meios digitais como seus principais canais de propagação.

2005 foi o ano em que pedi demissão depois de 15 anos trabalhando com sistemas de informação, de programador a gerente, foi uma experiência intensa e com certeza meu conhecimento de tecnologia me deu uma ótima vantagem competitiva no mundo do marketing digital.

A última vez que escrevi código foi em 2007. Sempre brinco com as pessoas quando conto isso parodiando alguém que saiu de uma rehab ou de uma reunião do AA. Acho código lindo, vivi de código a maior parte da minha vida profissional, mas eu não tinha mais prazer em escrever código, virou uma obrigação.

Parece, mas eu não sou o tipo de sonhador que fala para as pessoas abandonarem tudo em busca da vida perfeita, ao contrário, eu defendo que você tem que aprender a engolir muito sapo na vida e se você transformar seu hobby em trabalho uma hora ele vai ficar chato e você vai ficar sem hobby.

Meu site saiu do Geocities para uma hospedagem gratuita no Terra, de lá para um servidor compartilhado pago na Locaweb, depois foi para um servidor dedicado nos Estados Unidos, voltei para o Brasil na Locaweb IDC, fui para o IG, para o R7, depois um amigo me emprestou um espaço em um serviço de Cloud que recentemente transferi para o meu controle de novo.

Foram 18 anos e 9 serviços de hospedagem, sem contar as mudanças adicionais de servidor que aconteceram enquanto estava hospedado em algumas das empresas acima. Enquanto isso na vida real estou morando no meu 13º endereço em São Paulo. Coincidência? Acho que não.

A verdade é simples, eu gosto de mudar, não que eu ache a mudança divertida, é um saco. Caixas e caixas de coisas para organizar, desmontar tudo e remontar de novo. Fora que às vezes foram meses até tirar tudo das caixas. Na última mudança de casa eu joguei fora e doei dúzias de caixas, desde roupas que não me serviam ou eu não usava, até eletrônicos que eu achei que um dia ia reaproveitar e objetos que tinham valor sentimental mas no final das contas eram só mais um monte de trambolhos ocupando espaço.

Se o verdadeiro valor das coisas eu carrego nas minhas memórias então porque eu insistia tanto eu manter o conteúdo do site a cada mudança de hospedagem? Honestamente, os textos de 18 anos atrás eram ridículos, acho que a primeira coisa minimamente interessante que eu escrevi foi em 2002 e mesmo os textos que tiveram audiência de centenas de milhares de visualizações eram textos datados que não faziam mais nenhum sentido nos dia de hoje.

Além disso o site continha alguns “ativos” que requeriam manutenção e suporte, como os geradores de números para loteria (simuladores de bolão) e o conversor ortográfico. Sempre tinha que atualizar o valor das apostas quando havia reajuste das loterias, ajustar detalhes de código quando tinha algum upgrade do PHP ou quando as configurações dos servidores novos eram ligeiramente diferentes dos servidores anteriores. Além disso eu recebia muitos e-mails de gente informando inconsistências no conversor ortográfico e pedindo desdobramentos de apostas.

Fazendo as contas recentemente percebi que o que eu ganhava de publicidade com o site e o que eu gastava de hospedagem dava pouquíssimo lucro, somando a isso o trabalho que eu tinha com ele certamente era um prejuízo, meu tempo poderia ser muito melhor remunerado com coisas que me davam mais prazer, sei que nem todo mundo tem esse privilégio, mas seu eu tenho então porque não aproveitar?

Foi assim que numa dessas manhãs, aproveitando o ócio de estar em repouso pós operatório, eu tirei o site antigo do ar . Deixei um backup aqui (que eu espero nunca ter de restaurar) e criei um site do zero no WordPress.com. Usei o tema Lovecraft, deixei os últimos artigos no ar, criei uma página Sobre e uma página de Contato. Pronto! Tudo que eu preciso para viver como Consultor e Professor 🙂

A decisão de criar o site no WordPress.com não envolve nenhum tipo de patrocínio como já aconteceu anteriormente com IG ou R7. Eu tenho escrito profissionalmente para o WordPress.com no Brasil e esse contato regular me mostrou como é simples e prazeroso escrever sem ter o mínimo de preocupação com todos os aspectos técnicos da hospedagem. Aliás você pode ler meus artigos escritos para o WordPress.com nesse link.

Eu poderia passar a escrever apenas no Linkedin Publishing Platform ou nas novas notas do Facebook, ou ainda usar o Medium como fez o youPIX, todas são boas alternativas para não se preocupar mais com a hospedagem, porém eu escolhi o caminho mais fácil pra mim, são 4 meses usando o WordPress.com, tempo suficiente para me sentir confortável nessa plataforma para fazer tudo que eu precisava de acordo com a minha nova idéia de site.

Agora só falta terminar de deletar meus arquivos MP3 e terei me livrado de todo lixo digital que acumulei nos últimos anos, já transformei metade da minha biblioteca de música em playlists no Spotify, mas isso é assunto para um outro post! 😉

22 comentários em “Porque eu joguei fora 18 anos de conteúdo para começar de novo

  1. E acho que ha quase 18 anos eu leio o blog, já conversamos muitas vezes (nunca pessoalmente), trocamos e-mais mas nunca conseguimos tomar uma cerveja juntos heheehhee… Abração e belo texto!

  2. Eu sou um acumulador por natureza. Tenho muita tralha, para além dos livros, filmes e revistas. Mas as tralhas digitais estão cada vez maiores.

  3. Eu não consigo tomar uma decisão assim para o meu conteúdo; em minha opinião, os textos são história, e precisam ser mantidos. Claro que é sua a decisão de manter (ou não) os textos num serviço que você paga, eu respeito isso, mas acho que se muitos produtores de conteúdo decidirem seguir o seu caminho, vamos perder boa parte da história da web, e também muito conhecimento atemporal (seu blog de cerveja, por exemplo).

    Espero que o Internet Archive tenha bons backups do que você escreveu 🙂

    1. Eu concordo que é história, mas acho que se essa história não for contextualizada ao ser contada ela perde significado e valor, ao ler os textos antigos sem saber o que acontecia muito daquilo gera inclusive interpretações equivocadas. As reflexões que escrevo atualmente mostrando como eu usei o que vivi me parecem mais úteis pra sociedade. Existe um limite de conteúdo que conseguimos absorver diariamente, quem não souber como transformar o conteúdo antigo em algo importante para os dias de hoje está fadado ao esquecimento IMNHO.

      PS: Apesar de um dos meus blogs ter se chamado Bar do Edney ele era mais sobre causos do que sobre cervejas 😛

      E sim, tem muita coisa no Internet Archive 🙂

      1. Depois de ficar uns tempos ser vir no seu blog tomei um susto ao saber que você excluiu seus artigos antigos, será que ainda existe o artigo “o que é twitter” ?? Lembro que foi este uns dos termos que me fez chegar no seu blog e continuar lendo vários conteúdos posteriormente hahaha

        Lembro de um concurso que você fez para promover a Campus Party Brasil, onde eu fui o ganhador do ingresso por ter deixado a mensão ao seu blog por mais de uma semana, pena que na época eu estava sem grana pra viajar e não pude pegar aproveitar o ingresso.

        kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

        Abraços

  4. De fato, é preciso muita coragem.
    Se considerar que cada post que escrevemos leva uma parte de sentimento, boa vontade, ideal de realização, etc, etc, acredito que você em alguns momentos pensou em trazer tudo de volta, não?

    Eu com certeza não conseguiria me desfazer de um histórico grandioso como o seu.
    De qualquer forma, pela sua experiência, o que vier daqui por diante será maior e melhor. Estaremos aguardando, com certeza.

    1. Algumas pessoas precisam de muita coragem para seguir adiante, eu não tenho muita paciência pra ficar parado e o passado às vezes é uma âncora que você segue arrastando. Agora caminho bem mais leve! 🙂

  5. Uma pena que parte da web ficará quebrada (hiperlinks quebrados) tornando a história da mesma mais trabalhosa…

    Exportar todo conteúdo para HTML estático levaria a zero o esforço de manutenção, com benefícios para os historiadores da web brazuca.

    Mas, enfim, seu conteúdo suas regras.

    Abs

    1. Oi Sérgio,

      Você comentou 2 vezes, tomei a liberdade de aprovar apenas o comentário mais recente.

      Confesso que historiadores da web me parecem uma figura mitológica, e caso existam e me considerassem digno de figurar nela eu já estaria documentado por aí após mais de 20 anos de estrada na web, não é o caso, de qualquer maneira fico lisonjeado por acreditar que o lixo que eu joguei fora vai fazer falta pra alguém.

      Exportar para HTML, manter um raspberry PI (como você mencionou no outro comentário que não aprovei), manter online, responder comentários antigos, responder pedidos de entrevista, responder e-mails de reclamação porque saiu do ar, receber notificações de um server profissional ou caseiro por conteúdo que não me serve de mais nada dá muito trabalho, desculpe, mas você está minimizando uma situação que você desconhece.

      Achei rude e deselegante você vir aqui dizer o que fazer com o meu conteúdo e depois tentar “passar um pano” adicionando um “enfim, seu conteúdo suas regras”.

      Eu recebia alguns milhões de visitas por mês para o conteúdo velho, mantê-lo online era um custo significativo para quem está se preparando para ter uma boca a mais para sustentar. Custo financeiro, custo de tempo e o custo ideológico de não necessariamente endossar tudo que estava escrito naquele passado.

      De qualquer maneira, sem ter passado pelos mesmos aborrecimentos que eu passei com o conteúdo velho, você e outras pessoas só podem imaginar/conjecturar sobre o que eu passei e, vivendo uma vida com prioridades diferentes, vocês pode deduzir que algo que não lhes daria trabalho também não seria custoso pra mim. O que é oneroso para cada um de nós varia, inferir o valor de alguma coisa de acordo com o universo do outro exige um exercício de empatia que eu não percebi no seu comentário.

      Boa sorte na manutenção do seu conteúdo antigo, eu só posso conjecturar que isso lhe dá algum prazer ou satisfação da qual eu não compartilho, e espero que você possa realmente respeitar meu conteúdo sem querer me impor suas escolhas baseadas na sua vivência.

      1. Opa Edney, após o primeiro comentário o WordPress pediu para eu autenticar e, após a autenticação, a caixa estava vazia. Pensei que tinha perdido meu “textão” e fiz outro mais curto.

        Puxa, eu Comentei realmente o que acho de onde vejo, e reforcei que é legítimo você fazer o que bem entende com seu conteúdo. Uma pena você entender que fui rude ou sem empatia! De qualquer forma vida longa as conversações com ou sem links quebrados!.

        PS: bem-vindo ao clube dos pais:-)

      2. Oi Sérgio comentar de onde você vê é justamente a parte complicada, comentar de onde eu vejo seria empatia 😉

      3. Entendi Edney. Mas por questões óbvias não tenho como comentar de você vê. Para o bem ou para o mal 🙂

      4. Fique tranquilo, se colocar no lugar do outro é um exercício complexo, eu ainda estou engatinhando nesse universo.

  6. Cara, você sempre me surpreende. Acompanho sua produção há algum tempo e admiro não só sua bagagem profissional, mas também sua sabedoria. Este texto falou profundamente em mim. Obrigado. 🙂

  7. Olá Edney
    Após tantos anos, resolvi fazer uma busca nos meus pergaminhos, pesquisei alguns dos colegas do Programa MercadoSocios e eis que encontro este post seu.
    Há tempos atrás li um livro escrito por uma japonesa (cuja cultura conheço bem e que tem o hábito de juntar/guardar coisas) chamado “A mágica da arrumação”. Em resumo, o livro aborda diversos costumes ou maus hábitos que temos de guardar coisas velhas e inúteis e dá dicas de como organizar as nossas coisas e abrir espaço para as novidades.
    Fazendo um paralelo com sua trajetória, minha formação é em engenharia elétrica/eletrônica, também trabalhei com desenvolvimento de software, erp, linguagens de programação, etc. por muitos anos e, espírito inquieto, estou hoje em uma área totalmente distinta que é logística farmacêutica.
    No meu caso, o site Fontes Grátis não foi desativado. Apenas não o atualizo mais com a frequência com que fazia antes. Além disso, o conteúdo é totalmente diferente do seu.
    Discordo quando chamou de lixo digital do qual se livrou pois muito do conteúdo do seu antigo site, apesar de deslocado no tempo, continuava atual. Enfim, respeito sua decisão e gostaria de deixar aqui o respeito que tenho pelo profissional e pela pessoa que é.
    Abraços

  8. Meu processo tem sido outro, mas é por aí também. Tenho preferido enviar “cartas” dominicais aos leitores.

  9. Muito obrigado pelo artigo, Edney, ele me encorajou a empreender mudanças no conteúdo do meu blog (Diário do Verde) que são necessárias e que há tempos estou procrastinando, faço votos de muito sucesso a você em sua nova fase profissional, grande abraço!

  10. Olá, Edney, foi bom reencontrá-lo aqui no WordPress. Eu uso essa plataforma de publicação há anos, desde que travei contato com o mundo dos blogs.
    Eu era seu leitor assíduo e gostava muito do seu site anterior. Foi com você que aprendi muito do que sei sobre produção de conteúdo na Internet e Marketing Digital.
    Vou voltar a acompanhá-lo com frequência por aqui.
    É muito bom reencontrar “velhos” e bons amigos.
    Grande abraço!

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